Derrota inevitável ou colapso anunciado? O jogo 5 e as rachaduras do Cleveland Cavaliers
Passaram-se 30 dias, mas a derrota do Cleveland Cavaliers para o Indiana Pacers continua no ar. Porque ela não foi apenas um fim — foi um espelho. E talvez o reflexo tenha sido o mais duro de encarar. Hoje, um mês depois, talvez seja possível enxergar com mais nitidez o que aquele jogo revelou. Derrotas acontecem. Mas algumas deixam cicatrizes demais para serem esquecidas.
Os Cavaliers começaram o jogo como alguém que queria mudar o destino. Tiveram um bom primeiro quarto defensivo, limitando o Pacers a 19 pontos. Tinha urgência, e o ataque estava fluindo, apesar do baixo desempenho nos arremessos de três pontos, assim deixando esperanças da reação do Cleveland Cavaliers.
Praticamente no meio do segundo quarto, o Cavs abriu 19 pontos de frente, com um bom desempenho de Evan Mobley, mas bastou Tyrese Haliburton acertar uma sequência de bolas de três, junto com apagões ofensivos e defensivos, para o ginásio esfriar. Diante disso, o Cavs foi para o vestiário com apenas quatro pontos de vantagem.
O Cavs respondeu bem, com pontos rápidos, forçando o Pacers a pedir um tempo técnico logo no início do terceiro quarto. Mas, a partir dali, instalou-se um silêncio total em Cleveland, pois o time mandante, com muitos erros de criação e intensidade defensiva, ficou sete minutos sem acertar nenhum arremesso. Foi naqueles sete minutos que a esperança de milhares de torcedores do Cavs se foi. Nesses minutos, uma temporada promissora de 64 vitórias escapou. E o que restou foi um time sem energia, respostas e pronto para a morte.
Esse tempo desastroso foi o suficiente para o Pacers assumir o controle do jogo. Porém, Ty Jerome, que ainda não tinha entrado na partida — por conta da instabilidade nos jogos anteriores —, entrou e incendiou o seu time com duas cestas de três, deixando o Cavs ainda na partida.
Os últimos 12 minutos do Cleveland Cavaliers na temporada 24-25 foram uma mistura de esperança e frustração, pois o time parecia estar sempre ensaiando uma virada, mas nunca conseguia a liderança da partida. No começo do quarto, Darius Garland, com duas cestas, Jerome, com uma, e De’Andre Hunter, com uma de três. Porém, o cenário que se desenvolveu no último período foi o mesmo do passado recente do Cavs: o exército de um homem só de Donovan Mitchell.
Mitchell fez de tudo para evitar a eliminação. Fez triplos, and-one e bandejas, mesmo mancando depois de cada ponto marcado. Fez o Cavaliers não se distanciar do placar e chegou a deixar a diferença por duas posses. Porém, o Cavs, no final, cometeu uma nova sequência de erros cruciais e cavou o fim iminente de uma temporada que poderia ter sido de sucesso.
Donovan Mitchell não era mais o mesmo fisicamente, mas mesmo mancando e com o corpo no limite, tentou sustentar o Cavs até o fim. Ele forçou bandejas, converteu triplos e ignorou a dor em nome da sobrevivência. Mas ele não foi o único a lutar contra o próprio corpo. Darius Garland, silencioso e cada vez mais esgotado, também já não conseguia pisar no chão direito. Seus arremessos perdiam força, seu ritmo desaparecia, mas ele continuava tentando. Mitchell entregou 35 pontos; Garland entregou o que o corpo ainda deixava. E, às vezes, isso também é grandeza: resistir mesmo quando o que se tem já não é suficiente.
O tempo passou, mas as marcas daquela eliminação seguem visíveis — não apenas no placar ou nas estatísticas, mas nas escolhas e omissões que se acumularam até o colapso. Algumas atitudes poderiam ter mudado o curso daquela noite — como um volume maior para Mobley ou a entrada antecipada de Ty Jerome. Mas talvez a pergunta mais honesta não seja sobre o que faltou no jogo, e sim sobre o que foi exigido demais de um time esgotado. Até quando será preciso jogar no limite, silenciar a dor e vestir o sacrifício como se fosse obrigação?
Foto: NBA.com / Divulgação
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